Sínodo dos Bispos revisa o acordo de infalibilidade estabelecido no Vaticano II.
05/11/2008 - 09:57 por Collin Hansen
A doutrina da infalibilidade bíblica não pertence apenas àqueles que bradam: "Sola Scriptura!". A infalibilidade emergiu como uma questão-chave no Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Romana, que teve início no dia 6 de Outubro de 2008. Concentrado na "Palavra de Deus, na Vida e na Missão da Igreja", o Sínodo proporcionou aos 180 bispos Católicos a chance rara de compartilhar suas preocupações e escutar os colegas do mundo inteiro. O Papa Bento XVI dirigiu-se ao Sínodo no dia 14 deste mês e lamentou a ruptura entre os acadêmicos bíblicos e os teólogos. Os líderes religiosos já haviam alertado para o fato de que esta ruptura leva muitos Católicos a questionar a vitalidade e a autoridade da Palavra de Deus.De acordo com o boletim oficial do Vaticano, o Papa Bento XVI "concentrou-se nos critérios fundamentais da exegese bíblica, nos perigos de uma abordagem positivista e secularizada das Sagradas Escrituras, e na necessidade de uma relação mais próxima entre a exegese e a teologia".Bento XVI expressou sua apreciação pelos métodos de pesquisa que tratam a Bíblia como história verdadeira, e não como mitologia. E também desacreditou a bolsa de estudos de sua terra natal, a Alemanha, que nega a ressurreição de Jesus.O papa advertiu também que os eruditos devem levar em consideração a unidade de toda a escritura, a tradição da igreja, e a analogia da fé (a coerência da revelação bíblica). Segunto Bento XVI, a falha ao balancear a exegese com teologia conduz à conseqüências destrutivas."Esta é a primeira conseqüência: A Bíblia permanece no passado, falando somente do passado", explica o papa. "A segunda conseqüência é ainda mais grave: Onde a hermenêutica da fé [interpretação de textos sagrados] explicada no Dei Verbum desaparece, um outro tipo de hermenêutica aparecerá pela necessidade, uma hermenêutica que seja secularista, positivista,com o fundamento chave de que o divino não aparece na história da humanidade. De acordo com essa hermenêutica, quando parece haver um elemento divino, a fonte dessa impressão deve ser explicada, e assim tudo é reduzido ao elemento humano", completa."Nas entrelinhas, isto é uma tentativa de trazer a Igreja Católica Romana de volta às fontes escriturais", afirmou Timothy George, diácono fundador da Beeson Divinity School. "Devemos ler esta discussão à luz do livro do Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré. Ele aparece como um conservador quando se trata de questões de criticismo acadêmico, muito embora não seja propriamente um `infalibilista´ do Chicago Statemen¹".O proeminente observador do Vaticano, John Allen Jr., tem feito relatórios diários do Sínodo direto de Roma. Ele descreveu a visão Católica sobre a autoridade bíblica como estando "a meio-caminho entre dois extremos – o fundamentalismo de cepa evangélica, por um lado, e o ceticismo secular, por outro. Em uma gravação de áudio, o Catolicismo é descrito como estando em algum lugar entre a Convenção Batista do Sul e o Seminário de Jesus".Segundo Allen, alguns dos líderes Católicos mais conservadores se mostraram preocupados em relação aos primeiros esboços do documento de trabalho do Sínodo, o Instrumentum Laboris. O documento não apresenta ensinamentos de autoridades eclesiásticas. Mas, conforme observou Allen, "a discussão acerca da infalibilidade sugere que um tratamento cuidadoso deste assunto constará na versão final do documento, seja através das propostas submetidas ao Papa pelos bispos, seja na constituição apostólica que se espera ser proposta por Bento XVI".Allen relatou o que estava dito no documento em vias de elaboração: "Considerando o que pode ser inspirado por partes diversas das Sagradas Escrituras, a infalibilidade se aplica apenas ‘àquela verdade que Deus desejou que estivesse contida nas Escrituras, pelo bem da salvação’ (ênfase adicionada)". Esta paráfrase e esta citação provêm da declaração seminal de 1965, Dei Verbum, do Vaticano II. Mas em nenhum lugar o latim impositivo contemplou a palavra pode, conforme notou Allen.O Dei Verbum passou por várias revisões até alcançar um delicado equilíbrio. A primeira versão do Vaticano II afirmava que "as Sagradas Escrituras em sua completude são imunes de erro". Mas a versão final concluía que "os livros da Escritura ensinam sólida e fielmente, sem erro, a verdade que Deus desejou estar presente nas Sagradas Escrituras, para o bem da salvação"."O dogma da infalibilidade estava limitado ao domínio das verdades salvíficas", afirmou Gregg Allison, professor associado de teologia Cristã no Southern Baptist Theological Seminary (Seminário Teológico Batista do Sul). Questões relacionadas à história e à ciência não estavam ao alcance da infalibilidade. "Isto reduziu significativamente os problemas bíblicos levantados pelos acadêmicos Católicos, mas também se voltou contra a visão histórica da igreja acerca da veracidade das Escrituras".A tradução inglesa do documento do Sínodo atual sinalizaria um enfraquecimento progressivo da doutrina Católica da infalibilidade - "Parece que o acordo tácito do Vaticano II está sendo exposto na conferência de Roma", afirmou John Woodbridge, professor e pesquisador da história da igreja e da história do pensamento Cristão na Trinity Evangelical Divinity School. "Após anos de ‘não conteste’, agora eles estão perguntando e buscando respostas".Os desafios do Catolicismo perante a infalibilidade no final do século XX voltaram-se contra os longevos ensinamentos da igreja. Ninguém menos do que Santo Agostinho de Hipona estabeleceu o padrão da igreja. "A autoridade destes livros chegou até nós desde os apóstolos, passando pela sucessão de bispos e pela extensão da igreja, e, a partir de uma posição de eminente supremacia, reivindica a submissão de toda mente fiel e piedosa", escreveu Agostinho em resposta a Fausto, o Maniqueu. "Se ficamos perplexos mediante uma aparente contradição nas Escrituras, não é permitido dizer: ‘o autor destes livros se equivocou’, senão que, ou o manuscrito possui falhas, ou a tradução está errada, ou ainda, você não compreendeu".O Papa Leão XIII citou Agostinho em sua encíclica maior, de 1893, sobre o estudo das Sagradas Escrituras. O Vaticano elaborou, subseqüentemente, uma tomada de posição de décadas sobre o alto criticismo. Ao mesmo tempo, as controvérsias acerca da autoridade das Escrituras estavam causando destruição nos seminários e denominações Cristãs.Mais recentemente, os seminários e universidades Católicas toleraram os acadêmicos que negam a historicidade de alguns acontecimentos bíblicos, como os milagres de Jesus. O Papa Bento XVI é um agostiniano, e seus anos de professor universitário lhe proporcionaram os desafios colocados pelo criticismo acadêmico. De acordo com Allen, o papa advoga a "exegese canônica", que "garante a unidade da Bíblia e foca em uma interpretação teológica ao invés de literário-histórica".Antes do Sínodo, a Federação Bíblica Católica comissionou um estudo em 13 países para entender como eles concebiam a Bíblia, informa Allen. "Em linhas gerais, a pesquisa concluiu que inclusive em nações altamente secularizadas, as pessoas têm geralmente uma atitude positiva em relação à Bíblia, achando-a ‘interessante’ e querendo saber mais sobre ela", relata Allen. Ao mesmo tempo, poucos entrevistados não sabiam nada a respeito da Bíblia – nem mesmo se Paulo ou Moisés era um líder do Antigo Testamento.O problema no nível congregacional fora diagnosticado. Chegar a uma solução entre os líderes da igreja será ainda mais difícil, como nos mostra a história. Após empreender suas próprias batalhas em nome da infalibilidade, os Protestantes agora estarão assistindo."O único caminho em direção ao diálogo ecumênico é a senda bíblica", afirmou George. "A Igreja Católica Romana está levando a Bíblia mais a sério agora do que estava de 30 a 50 anos atrás, e isto é um bom sinal".Collin Hansen é editor de Christianity Today e autor de Young,Restless, Reformed: A Journalist's Journey with the New Calvinists(Jovem, incansável, reformado: A jornada de um jornalista com os novoscalvinistas)
¹O Chicago Statement on Biblical Inerrancy (Declaração de Chicago sobre a infalibilidade bíblica) ocorreu em uma Conferência Internacional de líderes evangélicos, acontecida no hotel Hyatt Regency O’Hare em Chicago, em 1978. O congresso foi patrocinado pelo Conselho Internacional sobre Infalibilidade Bíblica (International Council on Biblical Inerrancy, ICBI). A Declaração de Chicago foi assinada por quase 300 proeminentes acadêmicos evangélicos, tendo como objetivo defender a idéia de infalibilidade bíblica e fazer frente às tendências de abordagens liberais das Escrituras.
¹O Chicago Statement on Biblical Inerrancy (Declaração de Chicago sobre a infalibilidade bíblica) ocorreu em uma Conferência Internacional de líderes evangélicos, acontecida no hotel Hyatt Regency O’Hare em Chicago, em 1978. O congresso foi patrocinado pelo Conselho Internacional sobre Infalibilidade Bíblica (International Council on Biblical Inerrancy, ICBI). A Declaração de Chicago foi assinada por quase 300 proeminentes acadêmicos evangélicos, tendo como objetivo defender a idéia de infalibilidade bíblica e fazer frente às tendências de abordagens liberais das Escrituras.
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