Luiz Inácio Lula da Silva, o republicano, foi a Santa Catarina — em Criciuma — inaugurar a duplicação de um trecho da BR 101. Mantendo a prática em si escandalosa de casar a agenda administrativa com a eleitoral, seguiu depois para Joinville, onde participa de um comício em favor da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência e de Ideli Salvatti (PT) ao governo do Estado. Quem paga o deslocamento? De Brasília até Criciuma, eu e você — afinal, era o presidente viajando. De Criciuma a Joinville, em tese, é o PT — aí já é o militante do PT. De Joinville a Brasília, a gente paga de novo.
A entourage que se desloca sempre que o chefe do Executivo deixa o Palácio do Planalto também entra na nossa conta — tanto a do presidente como a do militante. Todos contribuímos com o caixa de campanha do PT. É a forma que tomou o socialismo do partido, entenderam?
Sigamos. Ao inaugurar uma estrada como presidente, Lula não resistiu e falou como militante. Ao exaltar pela enésima vez as suas próprias virtudes, como nunca antes etc, afirmou:
“Pra não ir muito longe, pode ir a São Paulo, onde o meu principal adversário político é de São Paulo. E veja se, quando eles [PSDB] tinham um presidente da República, ele [Serra] foi tratado com respeito e com a decência que eu dou a ele e dei a ele até agora. Porque é assim que eu sou, e a gente não muda depois de velho”.
Um presidente, que é quem inaugurava o trecho da estrada, não tem “adversários”; um militante tem. Para um presidente, não existem “eles”, apenas “nós” — já que ele governa a todos, os que votaram e os que não votaram nele. “Eles” são o “oposto” de “nós” apenas para o militante político. Não havia como Serra ter sido menos ou mais bem-tratado por FHC na comparação com o governo Lula porque a relação era outra: o agora candidato à Presidência pelo PSDB era ministro daquele presidente e foi prefeito e governador durante a gestão Lula.
O “respeito” e a “decência” dispensados a Serra compreendeu a ida de Lula à TV para acusar o “adversário” de ser o “candidato da turma do contra” e aquele que “entorta o nariz para tudo”. E o fez quando sobravam evidências de que familiares do presidenciável tiveram a sua vida vasculhada de modo ilegal por petistas. Pior: as ilegalidades ocorreram na Receita Federal, um órgão do Estado.
Referindo-se a supostas críticas que recebe da imprensa local, afirmou:
“Vira e mexe, eu recebo os jornais aqui do Estado, recebo colunas e, vira e mexe, vejo um engraçadinho dizer que não veio pra cá o dinheiro que nós liberamos para emergência. Não é justo comigo isso e não é justo com o governo”.
Que coisa!
Quem eventualmente critica Lula é um “engraçadinho”. Ele não suporta “injustiça”. Bom mesmo é tentar destruir, dia após dia, a reputação de seu antecessor, negando-lhe os feitos óbvios. Ontem mesmo, no debate da Rede TV, viu-se a sua criatura eleitoral — que está agora com ele em palanque — a afirmar que o governo anterior não investiu em saneamento. Investiu! Mais do que Lula.
Mas Lula é assim: quer acabar com os injustos do mundo para ser injusto ele só.
Por Reinaldo Azevedo
FONTE:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lula-e-a-sua-maneira-muito-particular-de-respeitar-os-adversarios/
ACOMPANHE ESSE BLOG...
Blog
Reinaldo Azevedo
Análises políticas em um dos blogs mais acessados do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário