segunda-feira, 24 de setembro de 2007

UMA PALAVRA A UM BÊBADO.

Uma Palavra a um Bêbado
John Wesley - As Obras de John Wesley Vol. VI *
20-Set-2007


1. Tu és um homem? Deus te fez homem; mas tu fazes de ti mesmo uma besta. Em que um homem difere de uma besta? Não é, sobretudo, na razão e no entendimento? Mas tu jogas fora a razão que tens. Tu te despes de teu entendimento. Fazes tudo que podes para tornar-te uma mera besta; não um tolo, não um louco simplesmente, mas um porco, um pobre porco imundo. Vai rolar com eles na lama! Vai, bebe continuamente, até que tua nudez seja descoberta, e teu vergonhoso vômito seja para tua glória!

2. Ó, quão nobre é uma besta que Deus criou comparada a alguém que faz de si mesmo uma besta! Mas isto não é tudo. Tu fazes de ti mesmo um diabo. Tu fomentas todas as disposições diabólicas que há em ti, e adicionas outras, que talvez não havia em ti; no mínimo tu as intensificas e as reforças. Tu fazes com que o fogo da cólera, ou da malícia, ou da luxúria, seja sete vezes mais quente que antes. Ao mesmo tempo tu entristeces o Espírito de Deus, até que o conduzes para bem longe de ti; e qualquer fagulha de bem que resta em tua alma tu sufocas e suprimes de uma só vez.

3. Então tu estás agora realmente preparado para toda obra do diabo, tendo posto de lado tudo que é bom ou virtuoso, e enchido teu coração com tudo que é mau, isto é, mundano, carnal, diabólico. Tu forçaste o Espírito de Deus a apartar-se de ti, pois não aceitarias nenhuma de suas repreensões, e tens te rendido às mãos do diabo, para seres por ele levado de olhos vendados, à sua vontade.

4. Agora, o que poderia impedir que te acontecesse o mesmo que aconteceu àquele que foi perguntado qual era o maior pecado, o adultério, a embriaguez ou o assassinato, e qual dos três ele preferia cometer. Ele disse que a embriaguez era o menor. Logo depois ele estava bebendo; então se encontrou com a esposa de outro homem e a violentou. Vindo o marido ajudá-la, ele o assassinou. Assim, a embriaguez, o adultério e o assassinato vieram juntos.

5. Ouvi uma história de um pobre índio selvagem, bem mais esperto do que ele ou tu. Os ingleses lhe deram um barril de bebida forte. Na manhã seguinte ele reuniu seus amigos, e colocando-o no meio deles, disse, “Estes homens brancos nos deram veneno. Este homem” (chamando-o por seu nome) “era um homem prudente, e não feriria ninguém senão os seus inimigos, mas tão logo bebeu disto, ficou louco, e teria matado seu próprio irmão. Nós não seremos envenenados.” Ele então quebrou o barril, e derramou a bebida sobre a areia.

6. Por que motivo tu te envenenas assim? Apenas pelo prazer de te envenenar? Quê! Farás de ti mesmo uma besta, ou, antes, um diabo? Arriscarás cometer todos os tipos de vilanias, e isto apenas pelo insignificante prazer de poucos instantes, enquanto o veneno escorre por tua garganta? Ó, nunca te chames de cristão! Nunca te chames de homem! Tu estás afundado sob a maior parte das bestas que perecem.

7. Tu não bebes, antes, por causa dos companheiros? Não fazes isto para prestar um serviço aos teus amigos? “Por causa dos companheiros,” você diz? Como é isto? Tomarias uma dose de veneno para ratos por causa dos companheiros? Se vinte homens fizessem assim antes de tu, não desejarias ser escusado? Quanto mais podes desejar ser escusado de ir para o inferno por causa dos companheiros? Mas, “para prestar um serviço aos teus amigos”: que tipo de amigos são esses que se sentiriam gratos por tua própria destruição? Quem permitiria, e além disso, instigaria que fizesses assim? Eles são patifes. Eles são os teus piores inimigos. Eles são daqueles amigos que beijam tua face enquanto apunhalam teu coração.

8. Ó, não tenhas em vista qualquer desculpa! Não digas, como muitos, “Eu não sou inimigo de ninguém, senão de mim mesmo.” Se assim for, que pobre ditado é este, “Não dei nada além de minha própria alma ao diabo.” Ai! Isso não é demais? Por que darias a ele sua própria alma? Não faças isto. Antes, dá tua alma a Deus.

Mas não é assim. És um inimigo de teu rei, que roubas, por meio disto, de um proveitoso súdito. És um inimigo de teu país, que defraudas do serviço que poderias fazer, tanto como homem quanto como cristão. És um inimigo de todo homem que te vê em teu pecado, pois teu exemplo pode levá-lo a fazer o mesmo. Um bêbado é um inimigo público. Eu não me admiriaria nem um pouco se temesses (como Caim, antigamente) que “todo homem que te encontre te mate.”

9. Acima de tudo, és um inimigo de Deus, o grande Deus dos céus e da terra, daquele que te envolve de todos os lados, e pode neste instante enviar-te rapidamente ao inferno. Aquele que estás continuamente afrontando a sua face. Tu estás desafiando-o abertamente. Ó, não o provoques mais dessa forma! Temas o grande Deus!

10. És um inimigo de Cristo, do Senhor que te resgatou. Tu insultas a sua autoridade. Desprezas seu poder soberano e seu terno amor. Tu de novo o crucificas, e quando o chamas de teu Salvador, o que é isso menos do que “trai-lo com um beijo”?

11. Ó, te arrependas! Vejas e percebas que tu és desgraçado. Ores a Deus, para te convencer no íntimo de tua alma. Quantas vezes de novo crucificaste o Filho de Deus, e o expuseste ao vitupério! Ores para que possas conhecer-te a ti mesmo, interior e exteriormente, todo pecado, toda culpa, toda impotência. Então grites, “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” Cordeiro de Deus, tire os meus pecados! Conceda-me sua paz. Justifique o ímpio. Ó, conduza-me ao sangue da aspersão, para que eu possa ir e não pecar mais, e possa amar muito, tendo sido muito perdoado!

Tradução: Paulo Cesar Antunes

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