terça-feira, 4 de setembro de 2007

O Papa Foi Apenas O Papa

O Brasil é, sem dúvida, um país original. Considerado “o maior país católico do mundo”, 70% dos seus “fiéis” só pisam na Igreja em batizados, casamentos e enterros (inclusive o próprio), muitos freqüentam, simultaneamente, um centrozinho espírita ou um terreirinho de macumba, acreditando mais na reencarnação do que na ressurreição, e criaram uma “pérola” conceitual, em que se é não sendo: “católicos não-praticantes”. Uma parcela integra a categoria original dos “católicos, mas a meu modo”, ou seja, que segue o que quer, e não o que a Igreja ensina. Essa originalidade vai pegando em outros seguimentos religiosos, como “judeus, ao meu modo”, ou, inclusive, “anglicanos, ao meu modo”...
Aí nos chega o Papa, com os títulos de “Chefe da Cidade do Estado do Vaticano”, “Santo Padre”, “Sumo Pontífice”, “Vigário de Cristo”, e outras expressões modestas, cercado do aparato de “simplicidade” que lhe é peculiar, com um empurrãozinho da grande imprensa, e do governo de um pretenso estado laico, mas, embora todos sejam iguais perante a Lei, “alguns são mais iguais do que outros”.
Pois bem, esse “país católico” ficou chocado porque o Papa agiu como Papa, denunciou o que a sua Igreja denuncia, cobrou o que sua Igreja cobra, ensinou o que sua Igreja ensina. Mas que cara de pau! Que reacionário! Onde já se viu Igreja Católica condenar camisinha, defender celibato de padres, ser contra o divórcio e o re-casamento, as drogas, o “ficar”, a castidade, e outras esquisitices? Editorialistas ficaram furiosos porque ele foi contra não só o velho comunismo, mas o pujante e atual capitalismo. Religião é importante – como afirmou o teólogo Luiz Inácio Lula da Silva – para a espiritualidade pessoal, para a sociabilidade e para (minorar as conseqüências) da questão social. A sua assessoria secularista trabalhou bem sua afirmação espontânea.
Como evangélicos defendemos a separação entre Igreja e Estado, como instituições, e a igualdade de todas as entidades religiosas registradas perante a Lei, em direitos e deveres, sem privilégios ou discriminações. Temos que estar de olho no pretenso acordo que está sendo elaborado pelo Itamaraty entre o Brasil e o Vaticano. Mas isso não significa que cada religião, além de exigir disciplina para os seus fiéis, não possa expressar mensagens de conteúdo ético que visem o bem-comum de todos os cidadãos, nem que os seus fiéis pensem e ajam politicamente motivados e inspirados pelos valores, princípios e conceitos da sua fé.

Muita gente quer ser católica, porque essa é a tradição da família ou o status da maioria da população, sem que isso implique compromisso com o que aquela Igreja ensina ou exige, em matéria de doutrina ou de ética. Parece que Benedito XVI não está tão interessado nessa massa (embora não queira perdê-la), mas em uma minoria mais enxuta e mais coerente. Ele não pode ser acusado de “autoritário”, porque a sua Igreja é natural e estruturalmente monárquica, centralizada e hierárquica, em sua construção histórica, em sua origem posterior às Igrejas orientais, desde a lenda de Pedro como primeiro Papa, a “igreja verdadeira”, e coisas tais. Reclamar falta de “democracia” na Igreja Católica é, no mínimo, risível de parte do que resta da Teologia da Libertação, dos liberais, e dos setores da imprensa que quer fazer média e não mídia, e da massa de moderninhos, que querem o filé, mas não os ossos que estão incluídos no pacote. Ser ou não ser, continua uma atualíssima questão!
O Papa, com sua sinceridade, transparência e “amabilidade” alemã ajudou a colocar os pingos nos is. Isso facilita, a todos nós, a sermos concordes ou discordes com ele. É uma voz corajosa, e isso já é positivo. Tem atacado o secularismo materialista e anticristão, e isso o faz, nesse aspecto, um nosso aliado.
Com a alienação e a omissão dos protestantes, ou a incoerência dos católicos, esse País não vai muito para frente.
Papa é para essas coisas. Papa é isso mesmo. Quem não gostar que procure outro produto no amplo e competitivo mercado religioso!
Como Reformados, devemos ser o que sempre somos, e seremos.
Paripueira (AL), 15 de maio de 2007.
® 2007 Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano
Secretaria DiocesanaEscritório Maceió - AL(81) 9111.7172"O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!" (Dt.31:8).
IGREJA ANGLICANA DO BRASILARQUIDIOCESE THOMAS CRANMER COMUNHÃO ANGLICANA INDEPENDENTE"Amor Católico aos Pais da Igreja e Lealdade Bíblica à Reforma."

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