terça-feira, 4 de setembro de 2007

Protestantismo: Tradicionais Crescem Mais do Que Pentecostais?

Protestantismo: Tradicionais Crescem Mais do Que Pentecostais?

Tivemos a divulgação, durante a semana que passou, de duas pesquisas sobre a realidade religiosa no Brasil: uma amostra do Datafolha tomando o período 1996-2007 (começando em uma década e indo até outra década) e o exaustivo trabalho da Fundação Getúlio Vargas, baseada em dados atualizados do IBGE, referentes ao período 2000-2003 (procurando mensurar os primeiros anos de uma nova década). A diferença de metodologias e de períodos estudados é responsável por diferenças entre os resultados.

O Datafolha (1996-2007) é o único a mensurar os espíritas, mantidos com os mesmos percentuais (3%), e os “outras religiões”, com o crescimento de 4% para 5% (+1%). Os “sem-religião” teriam crescido de 5% para 6% (+1%). Para os pesquisadores daquele jornal paulista, no mesmo período teria havido um declínio do catolicismo romano de 74% para 64% (-10%), e um crescimento dos evangélicos pentecostais de 11% para 17% (+6%), e dos evangélicos não pentecostais de 5% para 6% (+1%). Os totais, em percentuais, para a pesquisa da Folha, seriam, então, hoje: 64% de católicos romanos; 17% de evangélicos pentecostais; 6% de sem-religião; 5% de evangélicos não-pentecostais; 5% de outras religiões e 3% de espíritas. A pesquisa ignora a diferença entre pentecostais (Assembléia de Deus, p.ex) e neo/pseudo-pentecostais (Igreja Universal do Reino de Deus, p.ex), o que impossibilita mensurar e comparar os dois grupos, que sabemos são profundamente diferentes.

A pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, denominada: “Economia das Religiões: Mudanças Recentes” é um alentado trabalho de 53 páginas, elaborado por uma equipe técnica respeitável, e se propõe a averiguar uma nova década, século e milênio (2000-2003) em contraste com um período histórico maior (1872-2007). Nesse caso, o declínio de membros do catolicismo romano foi se acentuando com o tempo, tendo acelerado na última década do século passado, os anos 1990. Observemos algumas datas e percentagens: 1872: 99,72%; 1940: 95,01%; 1950: 93,48%; 1960: 93,07%; 1970: 91,77%; 1980: 88%; 1991: 83,34%; 2000: 73,89%. Ou seja, de 1872 a 2000 o catolicismo romano teria declinado 25,83%, mais da quarta parte dos seus seguidores, 9,45% somente no período 1991-2000.

Qual é, então, a grande novidade da pesquisa? O catolicismo romano inicia, por vários fatores, uma grande mudança nessa nova década, estagnando a perda dos seus fiéis: 2000: 73,79% vs. 2003: 73,89%. Não somente teria parado de cair, mas indicaria uma pequena reversão. Essas taxas, mais o crescimento demográfico médio totalizariam 139,24 milhões de católicos no Brasil hoje.

A categoria dos “sem-religião” (que no Brasil não significa, necessariamente, ateus, mas não-vinculados a instituições), que teria tido o seu primeiro e único aumento significativo na década de 1990, conheceria um declínio rápido e acentuado: 2000: 7,4% vs. 2003: 5,1%.

A segunda novidade: os evangélicos, na sua totalidade, continuariam crescendo, porém a índices mais modestos, e, nesse período, teriam avançado mais entre os “sem-religião” do que entre os católicos romanos. Vejamos: 2000: 16,2% vs. 2003: 17,9. Enquanto na década anterior o protestantismo cresceria mais de 1% ao ano, agora levaram três anos para alcançar índices semelhantes. Com projeção semelhante: taxa de crescimento + crescimento demográfico, os protestantes, em seu conjunto, seriam hoje 43,64 milhões de brasileiros.

Uma terceira novidade no estudo da FGV, é que no período atual, os evangélicos tradicionais (não-pentecostais), pela primeira vez em muitos anos, e mesmo que a percentagens modestas, teria crescido mais do que os pentecostais (aqui entendido, também, pentecostais e neo/pseudo-pentecostais juntos). Se, pelos cálculos de crescimento, os evangélicos teriam passado de 26,15 milhões em 2000 para 33,74 milhões de 2003 (com a percentagem mais crescimento demográfico seriam 43,57 milhões). Aí é que entra o fato novo do crescimento dos tradicionais:

2000: 26,15 milhões de Protestantes.
Pentecostais: 18,67 milhões.
Tradicionais (não-pentecostais): 7,48 milhões.

2003: 33,74 milhões de Protestantes.
Pentecostais: 23,57 milhões.
Tradicionais (não-pentecostais): 10,17 milhões.

Em resumo: a) espíritas e outras religiões estagnados; b) catolicismo parando de cair; c) sem-religião declinando; c) protestantes crescendo mais devagar, e mais à custa dos sem-religião do que dos católicos; d) protestantes tradicionais já crescendo, percentualmente, um pouco mais do que os pentecostais (lato senso).

Por um lado o grande guarda-chuva da Igreja de Roma apresenta cardápio com pratos para todos os gostos: teologia da libertação, renovação carismática, opus dei, focolare, romarias ao Juazeiro, devoções populares de padroeiros etc., e tem usado mais a mídia, aumentado o número de diáconos etc. Ou seja, está se movendo.

Por outro os escândalos morais, as frustrações de expectativas ou descoberta de se estar sendo manipulado, o cansaço com o emocionalismo, ou o legalismo, a busca de solidez bíblico-teológica, de raízes históricas e de estética, atingem, mais cedo ou mais tarde, seguidores do pentecostalismo e/ou do neo/pseudo-pentecostalismo, especialmente na classe média mais escolarizada. Essa decepção não é suficiente para que um contingente expressivo vire “sem-religião” ou opte por tomar as pílulas do frei Galvão... (Embora pesquisas na América Central registrem o retorno de filhos e netos do protestantismo pentecostal para o catolicismo romano).

Setores mais lúcidos do Pentecostalismo já falam na necessidade de um intercâmbio, e uma síntese, benéficos entre o seu entusiasmo e a história e a teologia dos tradicionais. No que recebem a concordância de muitos desses. O problema é quando muitos tradicionais já jogaram fora qualquer “tradição”, e não têm qualquer elemento diferenciado para contribuir.

Creio que está mais do que na hora das Igrejas históricas – sólidas em suas tradições, flexíveis em suas abordagens – com humildade, mas sem falsa modéstia, repensarem e aprofundarem a sua identidade, contribuindo para a sanidade do todo religioso brasileiro, participando da construção do futuro. Afinal de contas, nós temos estrada...

Recife (PE), 10 de maio de 2007.

® Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo DiocesanoSecretaria DiocesanaEscritório Maceió - AL(81) 9111.7172"O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!" (Dt.31:8).
IGREJA ANGLICANA DO BRASILARQUIDIOCESE THOMAS CRANMER COMUNHÃO ANGLICANA INDEPENDENTE"Amor Católico aos Pais da Igreja e Lealdade Bíblica à Reforma."

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