Um dos lindos rituais do sêder (refeição de Pêssach) é o consumo de um sanduíche único, feito com dois pedaços de matsá (pão ázimo) com maror (ervas amargas, como raiz forte, ou alface romana) dentro. A tradição parece estranha. A essa altura no sêder, já comemos um pedaço grande de matsá, seguido por uma quantidade significativa de maror. Por que a necessidade de combinar os dois num único sanduíche? Para explicar este enigma, tradicionalmente dizemos estas palavras antes de consumir o sanduíche, explicando o significado do ritual: “Isso foi o que Hilel fez, na época em que o Templo existia. Ele embrulhou um pedaço da oferenda de cordeiro de Pêssach, um pouco de matsá e maror e os comeu juntos…”Qual foi o motivo para o cardápio de Hilel? Ele foi um sábio da era do Segundo Templo que nasceu na Babilônia (conhecida hoje como Iraque) e em 31 AEC, 40 anos antes da destruição do Templo pelos romanos, tornou-se o líder do Sanhedrin (a Suprema Corte Judaica localizada em Jerusalém) Por que ele inventou este envoltório?O Processo da Tradição JudaicaA Torá foi originalmente escrita de uma maneira que se prestava a várias, e com freqüência contrastantes interpretações, todas elas legítimas, desde que aderissem à metodologia e fórmulas do estudo e interpretação bíblica transmitida desde Moshê de geração em geração.Isso esgotou a discussão da Torá sobre a refeição de Pêssach. Os sábios da era do Segundo Templo discutiram o significado do versículo a seguir, sobre o menu do sêder: “Eles comerão a carne [da oferenda de cordeiro] assada sobre o fogo, e matsot; sobre ervas amargas eles a comerão.”Hilel, o presidente do Sanhedrin, tomou estas palavras ao pé da letra: eles devem simultaneamente, na mesma mordida, comer o cordeiro de Pêssach, a matsá e o maror. Assim, foi inventado o primeiro sanduíche judaico. Consistia não de baguel e salmão, mas de matsá, carne e ervas amargas, e uma mordida deveria captar todos os três itens.Os colegas rabínicos de Hilel discordaram. Eles acreditavam, que a Torá queria dizer que estes três itens deveriam ser comidos na mesma refeição de Pêssach, não necessariamente no mesmo sanduíche e ao mesmo tempo.As Decisões Geralmente, nestes debates, (houve milhares deles, a maioria dos quais registrada na Mishná e no Talmud), as opiniões divergentes eram apresentadas ao Sanhedrin, 71 membros da Suprema Corte Judaica formada por homens de extraordinária erudição e impecável integridade.Como a Torá claramente instrui, a opinião majoritária da corte é estabelecida como Halachá, ou lei Judaica, sancionada pela própria Torá. No entanto, sobre este debate em particular – se era ou não necessário um envoltório de Pêssach – jamais foi atingida uma conclusão legal. Assim, incorporamos as duas perspectivas em nosso menu anual do sêder: Primeiro consumimos a matsá e o maror independentes um do outro, seguindo a perspectiva dos colegas de Hilel. Então consumimos as três juntas num sanduíche, seguindo a tradição de Hilel. Como atualmente não temos a oferenda de cordeiro de Pêssach, aquele terceiro alimento não faz parte do nosso sanduíche. Esta é uma breve e incompleta sinopse da origem haláchica do sanduíche do sêder. A Dimensão EspiritualSabe-se bem que toda lei, tradição e debate judaicos contêm, além do significado físico e concreto, uma camada psicológica e espiritual que torna a lei ou debate específicos eternamente relevante à jornada interior da alma humana.Qual é, então, o profundo significado espiritual por trás da insistência de Hilel, de que a mitsvá bíblica de comer o cordeiro de Pêssach, a matsá e o maror somente poderia ser cumprida se for feito um sanduíche com todos os ingredientes juntos? D’us realmente Se importa se você separar a carne do pão?Mais uma pergunta deve ser feita. Durante o sêder, quando nos engajamos em vários rituais, não recitamos antes de cada um o motivo por trás do seu desempenho. Por que o ritual do sanduíche é diferente de todos os outros rituais? Por que nós, antes do consumo do sanduíche, recitamos explicitamente a explicação para este costume específico?
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